POLÍTICA, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO | OPINIÃO

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

JUSTIÇA NA REPARTIÇÃO DOS SACRIFÍCIOS


Num tempo em que prevalecem e se acentuam as desigualdades é indispensável não descartar do valor da igualdade e do exemplo que deve ser dado na área da solidariedade. Igualdade na repartição justa dos sacrifícios, solidariedade dos que mais têm em função dos mais desfavorecidos.

Em apenas três meses, o actual Governo apresentou três PECs, isto é, em três conferências de imprensa para anunciar cortes na despesa, o que nos apresentou foram três aumentos sucessivos de impostos. Este Governo mostrou ser o campeão do aumento da carga fiscal e ainda, não subiu todos os impostos.

Anúncios que vão além do acordo com a Troika e que prejudicam o nível de vida dos portugueses e que põem em causa a coesão social. Este governo começou por criar a sobretaxa de IRS que corta 50% do subsídio de Natal aos portugueses. Como se não bastasse declarou o aumento do IVA sobre o gás e a electricidade, da taxa reduzida para a taxa normal, ou seja, dos actuais 6% para 23%, um aumento médio de 11 euros. A lista de sacrifícios prosseguiu em Agosto com o aumento das tarifas dos transportes públicos em 15% e promete não ficar por aqui.

Portugal atravessa um problema profundo, o problema da dívida soberana. Um problema amplo e comum a outros países da Zona Euro como Irlanda e Grécia. Para fazer face a esta problemática foi acordado entre Portugal e a Troika: o FMI, a Comissão Europeia e o Banco Central Europeu um empréstimo de 78 mil milhões de euros em troca de um programa de austeridade que reduza o défice abaixo dos 3% e que coloque a economia portuguesa na rota do crescimento económico para que em 2013 possa voltar aos mercados para se financiar. Todavia, importa aqui sublinhar duas ideias, em primeiro lugar, em 2013 a dívida externa portuguesa depois deste empréstimo será de 130% do PIB, estando agora nos 94%. Portugal poderá deter daqui a 2 anos a 2ª maior dívida pública da Europa, só não ultrapassando a Grécia e em segundo lugar, importa perceber como é que a economia portuguesa poderá crescer num cenário de recessão económica.

Sabemos que Portugal e os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades. Isso é uma evidência e um preço que estamos a pagar. Todavia, não pode a repartição dos sacrifícios ser mais equitativa? Não deve a repartição de sacrifícios ter o sentido da justiça social?

Sabemos que este Governo rejeitou a criação de um imposto sobre as grandes fortunas justificando a recusa como um entrave à captação de capital e investimento estrangeiro. Devem as grandes fortunas ficar de fora num momento tão particular como este?

Recentemente, Warren Buffet o terceiro homem mais rico do mundo declarou que os ricos devem pagar mais impostos. Uma declaração que levou países como Itália e França a colocar essa opção em cima da mesa. Uma declaração que Manuel de Lemos, Presidente da União das Misericórdias Portuguesas recentemente subscreveu. Uma opção que vai ao encontro de uma distribuição mais equitativa dos sacrifícios.

Uma resposta clara à falta de sentido de justiça social do Primeiro-Ministro. Não é a criação de um imposto temporário sobre as grandes fortunas que prejudicaria a competitividade da economia portuguesa. O que prejudica a economia portuguesa é precisamente a sua falta de produtividade, a sua falta de competitividade e a incapacidade de criar motores de crescimento económico. É nisto que o Governo se deve concentrar para salvar a nossa economia e não em proteger determinados segmentos da nossa sociedade.

Portugal atravessa um momento muito exigente onde cada cidadão, cada família e cada empresa está neste momento a dar o seu melhor. Precisamos de nos unir em torno daquilo que é essencial, por as contas públicas em ordem, reverter o sentido de endividamento e fazer a nossa economia crescer. Todavia, temos também de nos unir perante as desigualdades e não há maior desigualdade do que a ausência de justiça social na repartição dos sacrifícios.

NOTA: Uma nota muito breve sobre a situação financeira da Madeira. O PSD-Madeira levou a região à bancarrota, uma situação que penaliza o presente e o futuro dos madeirenses e que põem em causa toda a credibilidade do Governo Regional. Tem de haver uma penalização para este tipo de comportamento no exercícios das funções públicas. É inaceitável e criminoso que a democracia coadune com este tipo de endividamento.

9 comentários:

  1. boas fábio,

    vamos a ser precisos...o imposto extraordinário não corta metade do subsídio de natal aos portugueses. corta metade do valor acima do salário mínimo. ou seja, com esta pequena diferença estamos a tirar das contas deste imposto todas as pessoas que recebem salário minímo ou perto disso (não serão tão afectadas), e as pensões de reforma mais baixas. é uma grande diferença.

    por outro lado, não vou dizer qual é a minha opinião porque ainda não a formulei relativamente ao imposto sobre as maiores fortunas. mas penso que devemos deixar algumas questões no ar, porque parece que se criou a ideia que o dinheiro dos ricos cai do céu quando a maioria destas pessoas trabalhou e continua a trabalhar (e muito) para ter sucesso, além de que já pagam naturalmente mais impostos que os restantes. será justo para estas pessoas pagarem pelos outros só porque o seu trabalho árduo foi bem sucedido e o de outros não? são questões para ficar no ar.

    mas também aqui tens de ser mais preciso, quando dizes que esta opção vai de encontro a uma distribuição mais equitativa dos sacrifícios estás errado. vai de encontro a uma distribuição menos equitativa dos recursos, porque estás a fazer uma determinada população pagar mais que outros. podes dizer que é uma distribuição mais justa, mais equitativa é que não será por certo.

    abraço ;)

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  3. Estimado Bernardo, em primeiro lugar, obrigado pelo comentário, é sempre importante para o estimulo e motivação pessoal.

    Bom, de facto o imposto extraordinário deixa de fora todos os trabalhadores e trabalhadoras que auferem o valor do salário mínimo e as pensões mais baixas. Todavia, deixo esta questão é justo para quem aufere mais do que esse valor ficar sem metade do subsidio de férias, numa época de especial consumo que costuma impulsionar a economia? Não é, sabemos que não é! Há outras formas de ir buscar dinheiro, não têm de ser sempre os mesmos, neste caso, a classe mais atingida é classe média, também ela, muito dependente do trabalho do dia-a-dia.

    Mas estimado Bernardo porque não taxar os rendimentos de capital, nomeadamente, os rendimentos de juro, dividendos e mais-valias ou até mesmo empresas com lucros acima de uma determinada quantia?

    A questão aqui prende-se, na minha opinião, com o tratamento e a importância que atribuímos à repartição de sacrifícios. Ter sentido de justiça social na repartição dos sacrifícios é preservar a coesão social. E esta, é nos dias de hoje, tão importante como a captação de capital. Para fazer reformas são necessários entendimentos e concordância. Para tal, devemos dar às pessoas o sentido de justiça. Só assim, poderemos ter coesão social naquilo que é essencial, por as contas públicas em ordem, apesar da austeridade.

    Em relação ao esforço dos ricos, bom, ninguém está a dizer que as pessoas com grandes fortunas não se esforçam, pelo contrário, por experiência pessoal, posso dizer-lhe que até são pessoas muito trabalhadoras e que valorizam o trabalho. A questão é os trabalhadores de baixos rendimentos ou a própria classe média também se esforça, também ajuda a criar riqueza e também ajuda as empresas a terem sucesso. Portanto, respondo-lhe com uma pergunta, porquê que os ricos devem ser tratados de maneira diferente que os menos ricos? Não se esforçam todos? Não trabalham todos em prol da criação de riqueza?

    Quando falo em equidade dos recursos, neste caso, refiro-me à rectidão na maneira de agir, isto é, igualdade no tratamento, não devem haver excepções porque os obstáculos e as dificuldades devem ser enfrentadas por todos, com justiça social e não só por alguns!

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  4. boas,

    quem ler o que escreves no comentário fica a pensar que as pessoas mais ricas não pagam já impostos e até mais do que as restantes pessoas. eu sei qual será a tua ideia por detrás dessas razões, no entanto tens de aprender a explicar melhor as coisas. porque dás uma ideia completamente errada das coisas.

    por outro lado, temos de ser realistas, taxar grandes riquezas vai ajudar com alguma coisa, poderá até ser uma boa jogada de marketing para a população olhar para o governo de outra maneira, mas para pagar tudo o que se tem de pagar só temos hipótese se for a classe média a pagar, pois é o grosso da população portuguesa.

    quanto ao imposto extraordinário, mais uma vez, vamos a ser precisos. ele não vai privar ninguém em nenhuma época especial, porque é taxado em sede de irs. as pessoas devem é ter em atenção os gastos feitos nessa época já a contar com esse futuro pagamento.

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  5. Sabemos que Portugal e os portugueses têm vivido acima das suas possibilidades. Isso é uma evidência e um preço que estamos a pagar. Todavia, não pode a repartição dos sacrifícios ser mais equitativa? Não deve a repartição de sacrifícios ter o sentido da justiça social?......
    Quem? Porquê? Repartição de sacrifícios: Os benefícios foram ou vão ser repartidos?

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. não percebi esta resposta, nem o que ela tem a ver com aquilo que escrevi antes. não distorci a tua mensagem, aliás não a usei para nada. só corrigi algumas coisas que penso não estarem muito precisas, ou por falta de clareza na escrita ou por falta de informação.

    a quem queres que o imposto chegue mais então? aos salários mínimos e às pensões baixas? é que tirando esses todos vão pagar. e relembro, quanto mais se ganha mais se paga, aliás como já acontece nos descontos normais. daí a minha chamada de atenção para a equidade que se proclama sobre um imposto sobre grandes riquezas. não digo que não fosse proveitoso, mas equitativo não é.

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  8. Caro Bernando de lições de moral anda o mundo cheio.

    Estou a falar num imposto extraordinário criado pelo Governo. Pessoalmente discordo de impostos extraordinários, mas entendo os tempos em que vivemos e o pedido de sacrifício aos portugueses, mas bom o quê que eu explico mal? Aqui só uma coisa a perceber ou o Governo não cria imposto extraordinário ou o Governo cria imposto extraordinário onde quem mais tem também contribui. O que não pode fazer é criar imposto extraordinário só para alguns. Em tempos de sacrifícios todos devem contribuir de acordo com as suas posses. Os mais ricos não devem ficar isentos.

    Essa ideia proteccionista de que quem mais tem pouco contribuiu é uma ideia errada. Quem mais têm dá um contributo importante e esse contributo não deve ser menosprezado.

    O Bernardo nunca ouviu dizer que de "grão a grão enche a galinha o papo"?! Bom, agradeço que não distorce a minha mensagem e o conteúdo dela resume-se a algo simples: se um imposto desta natureza é criado ele deve chegar também aos que mais têm e não só a alguns. Só chegando ao que mais têm é que haverá justiça social!

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  9. Este EURO e esta obecessão pelo controle do defice, esta a fazer este EURO tão desprezivel como os "DIAMANTES DE SANGUE".
    Nos Diamates de sangue os países europeus e norte americanos sempre fecharam os olhos fingindo desconhecer a origem desses diamantes visando o lucro, Este EURO o nosso primeiro ministro é elogiado pelos seus parceiros europeus por ter atingido o defice pretendido, mas fingindo não ver a tragedia himana e social que esta por tras de um defice conseguido atraves de metodos semelhanrtes aos usados na extração dos diamantes de sangue, O MEDO com ameaças sucessivas deste governo com mais medidas de austeridade, a escravatura, tal como nos diamantes de sangue, através do aumento do horario de trabalho, do corte de feriados.
    E tal como foi noticiado em portugal e ninguem deste governo desmentiu uma criança de 6 anos morreu num hospital portugues porque os familiares não tinham meios economicos para pagar o transplante, porque havia um orgão compativel e neste caso em nome do defice tal como nos DIAMANTES DE SANGUE temos O EURO DE SANGUE, manchado com o sangue desta criança e elogiado por merkel, sim porque se merkel elogiou o objectivo alcançado do defice tambem elogiou os meios para alcançar esse defice e entre eles esta a morte desta criança.

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