POLÍTICA, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO | OPINIÃO

segunda-feira, 8 de junho de 2009

ELEIÇÕES EUROPEIAS



O neoliberalismo, uma forma moderna do liberalismo que concede ao estado uma intervenção muito reduzida na economia, que defende a absoluta liberdade de mercado e o Estado mínimo (ou seja, a privatização de todos os serviços públicos, menos as forças de segurança e justiça) surge no início do século XXI com a maior crise de carácter económico e financeiro nunca antes sentida e com efeitos negativos e profundos na economia global, fazendo com que os países mais industrializados do mundo e as economias emergentes registem, em simultâneo, recessões económicas com repercussões sociais significativas que põem em causa a qualidade de vida das gerações contemporâneas e futuras.
A consequência mais visível e sentida é o desemprego, resultado da recessão económica. A procura cai, a produção estagna e diminui, as entidades empregadoras despedem, as empresas encerram, o investimento cai e a desconfiança prevalece no mercado. Com os privados a não investir, recorre-se ao Estado para criar emprego através do investimento público. Esta crise é também o resultado da falta de ética das instituições, da corrupção que alastrou no mundo e da ruptura com valores humanos e democráticos.
No passado dia 7 de Junho realizaram-se nos 27 estados – membros da União Europeia, eleições europeias, ou seja, eleições para o Parlamento Europeu. O Parlamento Europeu é constituído por vários partidos:





PSE – Partido Socialista Europeu

ALDE – Aliança dos Democratas

PPE/DE – Partido Popular Europeu e dos Democratas Europeus

UEN – União para a Europa das Nações

Verdes/ALE – Verdes/Aliança Livre Europeia

CEUE/EVN – Coligação Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica

INDE/DEM – Independência/Democracia

NI – Não inscritos

O partido com maior número de deputados e com maioria é o PPE/DE, um partido que se rege pelos valores de direita – defende o neoliberalismo e o Estado mínimo – e que contribuíram para o surgimento desta crise. Da mesma maneira que o PS tem maioria absoluta em Portugal o PPE/DE tem maioria no Parlamento Europeu.
Com a crise internacional e todas as suas consequências seria de esperar que os partidos com valores de esquerda democrática – que defendem a intervenção do Estado na Economia e o Estado Social – ganhassem mais espaço e lugares no Parlamento Europeu. Eu esperava isso, mas não foi o que aconteceu.
Em primeiro lugar, quero fazer referência à Abstenção. Nestas eleições regista-se a mais elevada taxa de abstenção de sempre na União Europeia foi de 56,6%, e em Portugal foi de 62,5% (acima da média europeia). Em 2004, 77% dos jovens entre os 18 e os 24 anos abstiveram-se. Veremos quantos mais de abstiveram nestas eleições. Quanto à abstenção dizer que quem se abstêm abdica de participar na construção de um Portugal melhor. Dizer que quem se abstêm deixa que outros escolham por si. Dizer que quem se abstêm é civicamente irresponsável. Dizer que quem se abstêm perde a legitimidade de criticar, reivindicar e por em causa programas políticos que ganharam eleições livres e democráticas. Dizer que a abstenção numa sociedade democrática não é a solução. Dizer que o voto livre é a essência de um regime democrático e constitui um direito que a todos nós assiste.
Em segundo lugar, reflectir convosco os resultados eleitorais em Portugal:



- PPD/PSD, que faz parte do PPE/DE ganha eleições com 31,68% – elege 9 mandatos

- PS, que faz parte do PSE, com 26,58% – elege 8 mandatos

- Bloco de Esquerda, que faz parte da CEUE/EVN com 10,74% – elege 2* mandatos

- CDU, que faz também parte da CEUE/EVN com 10,66% – elege 2 mandatos

- CDS-PP, que faz parte do PPE/DE com 8,37% elege 2 mandatos

*Mais um por confirmar para o Bloco de Esquerda

Para estas eleições europeias, Portugal tem o direito de eleger 22 deputados dos 736 eurodeputados que constituem o Parlamento Europeu e representam 27 países.
Mais importante do que a vitória do PPD/PSD nestas eleições é o crescimento da extrema – esquerda com valores anti – europeístas e princípios e doutrina comunista, refiro-me ao Bloco de Esquerda e CDU, que juntos representam cerca de 21% das intenções de voto. Que consequências para Portugal, que desvantagens, muitas certamente. Tema que irei certamente explorar num outro momento.
Contudo, é importante ressalvar a vitória do PPD/PSD. Este partido, apresentou-se como alternativa ao Partido Socialista no governo português em eleições para o Parlamento Europeu. Este partido, apresentou-se com uma política de “verdade”, mas a nova claque desportiva – os “Orange Boys” (composta por militantes da JSD na sua maioria, e permitam-me utilizar a liberdade de expressão) fizeram questão de entoar a mensagem do PPD/PSD para os portugueses, a de que “o povo não se esquece que a crise é do PS”. Bem, aqui podemos estar a falar de várias coisas, pode ser ignorância, pode ser demagogia, pode ser incompetência, mas “Verdade” não é de certeza. Atribuir a maior crise financeira e económica de sempre no mundo a um partido português, é ser politicamente pateta. Responsabilizar o PS pelo que se passa no Mundo, que tem efeitos directos em Portugal é mesmo mentira, isto para que ninguém fique confuso. Veremos agora Paulo Rangel e os restantes eurodeputados eleitos no Parlamento Europeu a insurgirem-se contra o TGV? Não me parece.
Reconhecer, ainda, o contraste entre a abstenção e o número de partidos candidatos. Dar uma palavra de coragem e incentivo aos pequenos partidos que se candidataram.
“YES, WE CAN” ou “CHANGE” foram as palavras mais ouvidas e proferidas pelos cidadãos norte – americanas, em plena crise no final de 2008, quando elegeram Barack Obama. O novo Presidente dos EUA foi eleito para mudar. Mudar por mais Estado, quer na economia, quer na sociedade, mudar por maior regulação e por mais políticas sociais. Na Europa, as pessoas não quiseram mudar. Na Europa, as pessoas reforçaram o poder daqueles que deram origem a esta crise. Na Europa, as pessoas deixaram de acreditar.
Não podemos ignorar a Europa, temos de acreditar na Europa. Não podemos dizer que gostamos de viver em Democracia, quando não contribuímos para o seu bom funcionamento, devemos demonstrar que gostamos de viver em Democracia através da participação efectiva nos momentos eleitorais. O voto é o derradeiro processo democrático que garante a cada um de nós o direito de escolher, avaliar e julgar aqueles que nos governam periodicamente.
Em Portugal, as eleições europeias têm sido o palco de protesto das políticas nacionais. Nestas eleições, quem procurou punir este governo pelas dificuldades que todos enfrentamos, acabou por apoiar os responsáveis pela crise. Uma crise mundial de valores e princípios éticos, uma crise local de repercussões económicas e sociais. Este momento não é de vitória para ninguém, este momento deve ser de reflexão, bom senso e esforço para todos.





2 comentários:

  1. Caro Fábio, li com atenção a tua opinião, principalmente nas entrelinhas encontrei também algumas coisas, que socorrendo-me das tuas palavras, varias coisas podem ser, “pode ser ignorância, pode ser demagogia, pode ser incompetência, mas “Verdade” não é de certeza””.
    Então vejamos, “Atribuir a maior crise financeira e económica de sempre no mundo a um partido português, é ser politicamente pateta.” Mas deixa de o ser quando “Na Europa, as pessoas reforçaram o poder daqueles que deram origem a esta crise”, falas certamente das vitorias do Partido do Poder, na França, Holanda, Alemanha e Itália, assim, se bem percebo, ilibas o teu PS, mas não os restantes partidos (que fazem parte do PPE), que ontem saíram vitoriosos na Europa?
    E se me permites caro Fábio, aconselho-te a procurar a opinião de Robert Reich, que dispensa apresentações, que simplesmente advoga “Que é uma crise sem precedentes? Sim, mas é como as guerras, a próxima será maior ainda, porque, por fim, nasce uma crise sem responsáveis, onde todos fomos culpados, pois pela primeira vez, é a demografia, e não a politica que agora nos humilha!”, portanto, culpar direita ou esquerda….é demagogia!
    Aplaudo-te agora, quando falas da abstenção, uma vitória que é derrota (assim a defino), pois começa a ser impercebível tanta desafectação pelas eleições, mas gostava de saber, o que terias dito, se mesmo com este número de abstenção a vitoria tivesse sorrido ao PS.

    ResponderEliminar
  2. É compleatamente absurdo que alguns analiastas digam (como disseram ontem à noite) que este recusltado reflecte um possivel resultado nas proximas legislativas.

    Sim é verdade que a tarefa do PS ifca mais dificultada e que a maioria absluta esta cada vez mais distante. Mas isso ja todos nós sabiamos antes destas eleiçoes. O facto de termos que apertar o sinto face a esta crise mundial prejudicou claramente o PS. Nao ha duvias disso. Mas é preciso nao ser hipocrita neste aspecto. Pois se no governo estivesse o PSD certamente agora nestas eleiçoes o pS teria ganho e o PSD seria clarmente prejudicado. Sempre foi assim e sempre sera. O povo portugues nao consegue separar alhos de bugalhos. Infelizmente.

    Mas o que me incomoda profundamente é o "esquecimento" quase imediato dos os cidadaos portugues. Esquecem-se que foi num governo PSD/CDS que nunca antes estivemos tao acurrentados; esquecem-se que foi num governo PSD/CDS chefiado por Durao Barroso, que escolheu a actual presidente do PSD (Manuela Ferreira Leite) para Ministra das Finaças que nunca antes a nossa economia este tao mal, que nunca antes passamos por momentos de aperto constrabgedor. Uma de muitos responsaveis por este crise é de facto a Ferreira Leite. Para nao falar do tao mitico e catastrofico Santana Lope. Essa maça podre que é talvez ao maior responsavel por tudo isto que esta acontecer em Portugal.

    Mas disto a JSD nao fala, ou melhore nao se lembra. Mas parte da maior parte da população portuguesa que ontem foi votar que assinalou a cruz no partido laranja. Mas eu e muitos como eu nao nos esquemos. E fazeremos de tudo para relembrar a quem ja se esqueceu destes acontecimentos.

    A quem acredita num Estado verdadeiramente de Direito, democaratico e a favor de politicas de esquerda, capazes de ajudar quem é mais prejudicado e desvaforecido, nao desanimem. A solução é PS. É acreditar que a esquerda nao morreu. E que daqui a uns meses com ou sem marioria sera o Partido Socialista a gritar vitoria.

    Esquerda sempre.

    ResponderEliminar